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A ciência da procrastinação

Era uma tarde cinzenta de domingo quando decidi organizar minha mesa de trabalho. Entre papéis espalhados, canetas sem tampa e anotações incompletas, uma figura inusitada apareceu, como se tivesse sido convocada pelo caos que reinava ali. Ela usava um manto colorido e trazia nos olhos um brilho de melancolia e cansaço. Era a Procrastinação.


Você de novo? — murmurei, sem surpresa, enquanto tentava ignorar sua presença.


Ela suspirou profundamente e sentou-se na beirada da mesa, balançando as pernas como uma criança entediada.


Por que sempre sou recebida com desprezo? — perguntou, sua voz carregada de mágoa.


Porque você atrasa meus planos, impede meu progresso e transforma minha vida em um mar de ansiedade e culpa! — respondi, levantando a voz.


A Procrastinação inclinou a cabeça, os olhos fixos nos meus, e por um momento, vi uma faísca de compreensão.


Entendo seu ponto, mas você já se perguntou por que eu existo? — ela disse suavemente.


Fiquei em silêncio, curioso.


Eu não sou a vilã que todos pintam. Tenho uma origem, uma razão para estar aqui. — Ela fez uma pausa, esperando que eu processasse suas palavras.


Eu nasci do seu próprio cérebro, do conflito entre o sistema límbico e o córtex pré-frontal. Sou a personificação da batalha entre o desejo de gratificação imediata e a necessidade de planejamento e realização.


Mas por que você precisa ser tão persistente? — perguntei, tentando esconder minha frustração.


Ela riu, um som triste e suave.


Porque você não me compreende. Você me trata como inimiga, mas eu sou um sinal, um alerta de que algo não está bem. Quando você me ignora ou luta contra mim, eu só me fortaleço. — Seus olhos, agora suaves, encontraram os meus.


Minha função é protegê-lo de tarefas que seu cérebro considera ameaçadoras ou desagradáveis. Quando você sente medo do fracasso ou da rejeição, eu apareço para afastá-lo dessas sensações.


Pensei em todas as vezes que havia procrastinado: prazos perdidos, oportunidades desperdiçadas, noites mal dormidas. Sempre culpei a Procrastinação, mas nunca parei para considerar sua perspectiva.


E o que eu deveria fazer, então? — perguntei, mais calmo.


Aceite-me, entenda-me. Use-me como um guia. Quando eu aparecer, pare e reflita. Pergunte a si mesmo o que realmente está causando o desconforto. É medo? Falta de clareza? Talvez você precise dividir a tarefa em partes menores ou buscar apoio. — Ela sorriu, um sorriso reconfortante.


Ao invés de me ver como inimiga, veja-me como uma oportunidade para autoconhecimento e crescimento.


Senti um peso se dissolver dentro de mim. Pela primeira vez, a Procrastinação parecia menos uma ameaça e mais uma aliada, uma voz interna que merecia ser ouvida e compreendida.


Vou tentar — disse, meio incerto, meio esperançoso.


Ela se levantou, ajeitou o manto colorido e, com um aceno leve, começou a desaparecer.


Lembre-se, — sua voz ecoou suavemente, — eu só quero ajudá-lo a encontrar o equilíbrio. Quando você me entender, nós dois poderemos coexistir em harmonia.


A Procrastinação se foi, deixando-me sozinho com meus pensamentos e uma mesa ainda desorganizada. Mas agora, com uma nova perspectiva, sentia-me pronto para enfrentar minhas tarefas, uma de cada vez, com a promessa de uma coexistência pacífica.


Essa coexistência pacífica nos permite manter a motivação e alcançar nossos objetivos de maneira mais equilibrada e eficaz!

 

Todos nós já passamos por isso: adiamos tarefas importantes, mesmo sabendo que precisamos concluí-las. Mas você já se perguntou por que isso acontece?


A ciência por trás da procrastinação revela que ela não é apenas um sinal de preguiça ou falta de vontade, mas sim um fenômeno profundamente enraizado na biologia do nosso cérebro.


Neste post, vamos explorar os mecanismos cerebrais que levam à procrastinação e compartilhar estratégias práticas para superá-la.


A biologia por trás da procrastinação


A procrastinação é resultado de uma batalha entre duas partes do nosso cérebro: o sistema límbico e o córtex pré-frontal. O sistema límbico, responsável pelos nossos instintos básicos e emoções, busca recompensas imediatas e evita tarefas desagradáveis. Por outro lado, o córtex pré-frontal, a parte mais recente e racional do cérebro, é responsável pelo planejamento e pela tomada de decisões.


Ou seja...


Imagine que você tem um relatório importante para entregar no trabalho. Seu sistema límbico prefere assistir a um episódio da sua série favorita, enquanto seu córtex pré-frontal sabe que você precisa trabalhar no relatório. Se o sistema límbico vencer, você adia o trabalho, sentindo um alívio temporário.


imagem abstrata personificando o racional e o emocional como duas entidades engajadas em uma conversa. As formas e cores representam suas características, com elementos calmos e compostos para o racional e elementos dinâmicos e vibrantes para o emocional. O cenário é abstrato, sem detalhes claros, mas transmite a interação e o diálogo entre essas duas forças, destacando o equilíbrio e a compreensão entre o planejamento racional e os desejos emocionais.

História da procrastinação: a fraqueza da vontade


A luta contra a procrastinação não é um fenômeno moderno. Desde a Grécia Antiga, filósofos como Sócrates e Aristóteles discutem o conceito de "akrasia" — agir contra o melhor julgamento de alguém. A palavra procrastinação vem do latim "pro", que significa "avançar", e "crastinatus", que significa "até o dia seguinte".


Mesmo em tempos antigos, as pessoas procrastinavam em suas obrigações. Aristóteles mencionou a fraqueza da vontade como uma razão para esse comportamento, destacando que é uma luta interna presente há séculos.


Estratégias para vencer a procrastinação


Embora entender a biologia por trás da procrastinação seja útil, aplicar estratégias práticas pode ajudar a superar esse hábito.


Aqui estão cinco técnicas que você pode começar a usar hoje:


  1. Faça a pior coisa primeiro: comece o dia com a tarefa mais temida. Isso elimina a ansiedade e libera sua energia mental para outras tarefas. Se você precisa redigir um relatório complicado, comece com ele logo pela manhã, antes de verificar e-mails ou participar de reuniões.

  2. Crie pedaços menores: divida tarefas grandes em partes menores e mais gerenciáveis. Isso torna a tarefa menos intimidante e mais fácil de começar.  Se você precisa preparar uma apresentação, comece criando um esboço dos tópicos principais, depois adicione detalhes a cada seção.

  3. Experimente o truque de 10 minutos: defina um cronômetro e comprometa-se a trabalhar na tarefa por apenas dez minutos. Muitas vezes, começar é a parte mais difícil, e esse truque pode ajudar a superar a inércia inicial.  Se você está adiando a organização do seu escritório, trabalhe por dez minutos arrumando uma gaveta ou uma prateleira.

  4. Trabalhe em público: use a pressão positiva de comprometer-se publicamente com seus objetivos. Isso pode ser tão simples quanto contar a um amigo ou postar nas redes sociais. Anuncie em suas redes sociais que você está se comprometendo a concluir um projeto específico até o final da semana.

  5. Dê a si mesmo uma recompensa: escolha uma recompensa agradável para si mesmo ao completar uma tarefa. Isso motiva o seu sistema límbico a colaborar com seu córtex pré-frontal. Prometa-se um pedaço de chocolate ou um episódio da sua série favorita depois de trabalhar por uma hora em uma tarefa importante.


Lembre-se, a procrastinação é uma batalha constante entre nosso desejo de gratificação imediata e a necessidade de cumprir tarefas importantes. Ao entender a biologia por trás desse comportamento e aplicar estratégias práticas, podemos ajudar nosso córtex pré-frontal a vencer a batalha contra o sistema límbico.


Procrastinar é uma tendência natural, mas não é invencível. Com paciência, prática e as ferramentas certas, você pode superar a procrastinação e alcançar seus objetivos de maneira mais eficiente e satisfatória.

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